segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O valor das coisas

-Vamos começar assim; E se uma garrafa de água valesse 1 milhão de Euros?

Esta história não é minha, mas resume-se à necessidade que temos e ao valor que damos às coisas. Todos sabemos que uma garrafa de água pequena, custa uns cêntimos no supermercado, talvez 1€ num café, talvez 3€ num restaurante mais "fino", mas 1 milhão de €, custa a acreditar.
Tudo depende da escassez e da necessidade.

Um viajante solitário propôs-se a atravessar o deserto do Saara, de Oeste para Leste. Previu que a sua caminhada ao longo do deserto levaria cerca de 20 dias, a caminhar pela madrugada e ao final do dia, parando para se proteger do calor durante o dia. Previu ainda que necessitaria de encontrar água durante a viagem, mas que iniciaria a jornada apenas com 20 Litros de água, que a racionaria a 1 lt por dia. Para matar a fome, levou 20 pacotes de bolachas, estes seriam os mantimentos para ser um peso que pudesse carregar aos ombros, durante a jornada. Como era muito desconfiado, (esta era uma jornada de reencontro com o propósito da sua vida), levou uma bolsa à cintura com todo o seu dinheiro, exactamente 1 milhão de €.

De inicio tudo correu como planeado. Caminhava entre as 3h e as 9h  da manhã, parava, abria a sombra que carregava, ficava quieto até às 18h e caminhava de novo entre as 18h e as 22h30. Tudo de acordo com o plano inicial. até que se desviou da rota, embora caminhasse, seguindo a bussola para leste, fazia-o na diagonal, aumentando inconscientemente o número de quilómetros a percorrer.

Ao vigésimo dia deu conta que ainda não avistava o fim do deserto e o ponto de chegada, percebeu que estava perdido e sem saber se faltava muito ou pouco para chegar ao destino. Os mantimentos esgotaram-se, estava mais leve para caminhar, mas sem água certamente não seria possível concluir a jornada.
Sentiu-se perdido, ao fim de 20 dias sem avistar vivalma, agora sem comida e sem água, o futuro esfumava-se por entre as areias do deserto. Nunca fora adepto de nenhuma religião, mas a gravidade da situação, fizeram com que rezasse a Deus por um milagre que o salvasse do aperto, o sufoco do calor durante o dia, mesmo parado desidratava a olhos vistos, até já começava a ter visões com oásis cheios de tamareiras e água, as coisas estavam a ficar muito feias.
Ao 24º dia, não conseguiu fazer a caminhada do fim do dia, sentia que as forças estavam a deixar o corpo, tinha desistido do objectivo, mentalizara-se que chegara o fim.

Enquanto dormitava, ouvia vozes ao longe, tinha visões de camelos e homens se aproximando; seriam realidade ou mais uma partida do cérebro? Acabou por "apagar" num sono profundo.

Já o sol ia alto, quando sentiu uma mão a levantar-lhe a cabeça, e um liquido a escorrer pelos cantos da boca, estaria morto e chegado ao purgatório, pensou para consigo. Após sentir uns abanões, abriu os olhos, o mais arregalado que conseguiu e viu um grupo de homens e camelos parados na sua frente. Estavam a molhar-lhe o rosto e os lábios tentando saber como estava ali sozinho, o que lhe acontecera. Apesar da barreira linguística, a comunicação foi possível, recorrendo a desenhos na areia e linguagem gestual.

Após refeito, hidratado com alguma água dos viajantes, ter comido uns pães árabes que os viajantes lhe deram. 
A caravana tinha de continuar a sua viajem, convidaram-no a acompanhá-los, mas este recusou porque significaria voltar sem cumprir a missão. Perguntou a que distância estava do seu objectivo, informaram-no que mais 6 luas o afastavam do destino. Então perante a insistência de concluir a sua jornada, deram-lhe 6 pães pita, mas água apenas podia beber uns goles antes de partir porque não havia abundância também para os homens da caravana de camelos.

Perante a escassez de água, o nosso aventureiro, propôs-se a comprar uma pequena garrafa de plástico que trazia consigo, aos homens da caravana por todo o dinheiro que carregava consigo. Após entreolharem em consentimento, encheram a pequena garrafa de água e ficaram à espera de umas moedas do nosso aventureiro. Este entregou a bolsa que carregava na cintura, ao líder da caravana e partiram em direcções opostas.

O nosso aventureiro concluiu a sua missão 6 dias após o encontro, enquanto os homens da caravana levaram 24 dias a chegar a Casablanca em Marrocos, onde finalmente abriram a bolsa, que receberam em troca da garrafa de água, ficando espantados ao contarem 1 milhão de Euros.

Moral da história, o valor das coisas, está na importância que elas tem para nós, para os nossos projectos e para a nossa sobrevivência, naquele momento, aquela água valia muito mais que todo o dinheiro do mundo, para que o nosso aventureiro chegasse ao seu destino. Assim uma garrafa de água foi vendida por 1 Milhão de Euros.
Os homens da caravana foram humanos e sensíveis à vontade do nosso aventureiro, concluir a sua missão, foram largamente recompensados pela sua humanidade, o nosso viajante trocou tudo que tinha pela sobrevivência só possível naquele lugar com água, humanidade, partilha e desprendimento de bens materiais, realizam milagres em nossas vidas.

O que tem valor para ti? Quanto estarias disposta(o) a pagar por esse bem? Qual o teu grau de humanidade, de partilha e de desprendimento?


Se gostas desta história oferece-me uma água
Será que és generosa(o) com desconhecidos, será que negas água no deserto, porque não tens suficiente para ti, ou partilhas a última garrafa?




Sem comentários:

Enviar um comentário